Nesta terça-feira (7), no Dia da Independência, manifestações acontecerão em diversas cidades brasileiras, em mais um Grito dos Excluídos e das Excluídas. Nestes 27 anos de história, o Grito mudou a cara do 7 de Setembro e da Semana da Pátria, chamando o povo para descer das arquibancadas dos desfiles cívicos e militares e participar, ativamente, na luta por seus direitos, nas ruas e praças, nos centros e nas periferias de todo o Brasil. Para ecoar seus gritos de denúncia e de anúncio de um projeto de país mais justo e igualitário, na defesa da dignidade da vida em primeiro lugar.
Em 2021, na sua 27ª edição, o Grito dos Excluídos e das Excluídas tem como lema: “Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, já!”.
“Estar nas ruas é um ato democrático e, na Semana da Pátria, é um tempo favorável para seguirmos firmes nessa defesa”, anuncia a coordenação do Grito.
“O Grito dos Excluídos e das Excluídas é um processo de construção coletiva, é muito mais que um ato. Por isso, nossa luta não se encerra no dia 7 de Setembro. Nossa luta é uma maratona, não é uma corrida de 100 metros. O Grito é uma manifestação popular carregada de simbolismo, espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas da população mais vulnerável”, acrescenta o comunicado da coordenação.
Em Manaus, o Grito está sendo organizado pelas Pastorais Sociais da Arquidiocese de Manaus e a Caritas Arquidiocesana de Manaus. Nesta quinta-feira 2 de setembro, o Grito foi apresentado em coletiva de imprensa, com a presença da mídia local.
“Nos últimos anos, temos visto a importância de termos dentro da nossa sociedade uma manifestação para que as pessoas excluídas tenham de novo vez”, afirmou Dom Leonardo Steiner na apresentação do Grito dos Excluídos e Excluídas. Segundo o arcebispo de Manaus ao falarmos de excluídos, estamos pensando em exclusão da educação, do emprego, lembrando que o Brasil está hoje com 14 milhões de desempregados, junto com aqueles que tem um emprego informal, algo muito presente em Manaus, onde é grande o número de pessoas vendendo água ou café na rua.
Dom Leonardo também se referiu à exclusão da democracia, exclusão política, o que demanda “uma participação maior da sociedade nas decisões políticas”. Nesse ponto criticou as decisões do Congresso Nacional, “que não pensa no povo”, demandando a necessidade de voltarmos a discutir política. O arcebispo falou dos excluídos economicamente, algo que vai além do desemprego, denunciando que “com a venda das estatais vamos percebendo cada vez mais o quanto nós estamos sendo delapidados”, afirmando que “as estatais existem para as políticas públicas”.
O arcebispo colocou entre os excluídos “os nossos irmãos indígenas”, criticando como está se acabando com sua cultura, além de suas terras, e afirmando que “estão sendo excluídos desde o início do que se chama Brasil”. Junto com os indígenas, dom Leonardo Steiner falou de outros grupos excluídos, como os ribeirinhos, os quilombolas, as pessoas que não tem vez dentro da nossa sociedade, relatando que está crescendo o número de pessoas que vivem na rua. Ele lembrou as palavras de Madre Teresa de Calcutá, que falava deles como “aqueles que o Estado e a sociedade não querem”.
Lembrando as palavras da Laudato si´ e da Querida Amazónia, dom Leonardo definiu a devastação da Amazônia como outra forma de exclusão. De fato, “a destruição da natureza faz com que tenhamos cada vez mais excluídos”, segundo o arcebispo. Outras questões que mostram a exclusão são a falta de saneamento básico, de acesso à cultura, de falta de saúde, denunciando o desmonte do SUS, da falta de acesso à educação, apontando a tentativa do governo brasileiro de excluir do sistema educativo a pessoas com deficiências. Também lembrou a exclusão que acontece em torno à moradia, uma realidade muito presente em Manaus.
Tudo isso mostra a necessidade de um Grito, de fazer ecoar a necessidade do cuidado com a vida na sua totalidade, segundo o arcebispo de Manaus. Lembrando os sonhos do Papa Francisco em Querida Amazónia, dom Leonardo Steiner vê isso como “um grito para que a nossa humanidade acorde e possa viver uma vida mais digna, mais justa, mais fraterna, mais irmã”.
Dom Leonardo Steiner insistiu em que “é muito importante nos movimentarmos em busca de um Brasil melhor, em busca de um Brasil justo, em busca de um Brasil onde todos e todas possam se sentir à vontade”. O arcebispo insistiu em “termos uma sociedade mais equânime, mais equilibrada, mais fraterna, mais justa”, denunciando a difícil situação que vive o país em relação ao emprego, aos povos indígenas, ao meio ambiente. O objetivo é ajudar a sociedade a perceber que “nós, todos juntos, podemos oferecer uma outra situação ao Brasil”, enfatizando que “sem a participação da sociedade, as coisas não mudarão”.
O QUE NOS MOTIVA A GRITAR EM 2021?
– As quase 580 mil mortes pela COVID-19, muitas das quais poderiam ter sido evitadas;
– A corrupção na negociação de compra e distribuição das vacinas contra a COVID-19 (CPI);
– O desmonte da saúde pública (SUS);
– A carestia e a fome que voltaram com tudo e assolam as camadas empobrecidas da população;
– O desemprego;
– O desvio do dinheiro público, através do orçamento federal, para o pagamento de juros da dívida pública, ao invés de investir em políticas sociais;
– A falta de moradia, que se agrava com os despejos criminosos;
= A não demarcação das terras indígenas e o grito profético dos povos indígenas dizendo “Não ao Marco temporal”;
– A denúncia contra o tratamento dado aos povos em situação de rua, sejam de qualquer origem, migrantes e refugiados ou deslocados internos, que lutam e resistem por dignidade e cidadania universal no Brasil;
– A cultura do ódio disseminada pelo governo federal e seus aliados que ataca e retira os direitos humanos de mulheres, LGBTQIA+, negros/as, dos povos originários – Indígenas e Quilombolas, das pessoas portadoras de deficiência, do/as trabalhadores/as, dos setores excluídos da sociedade.
Haverá atos e manifestações conjuntas, do 27º Grito dos Excluídos e das Excluídas com a Campanha Fora Bolsonaro, em todo o Brasil, de forma presencial, onde for possível, e de forma virtual pelas redes sociais.
ORIENTAÇÕES SANITÁRIAS E DE SEGURANCA DURANTE AS MANIFESTAÇÕES:
♦ Manter o distanciamento social recomendado pela OMS e o uso de máscaras e álcool gel;
♦ Carregar sempre água suficiente para se hidratar durante os atos;
♦ Não responder às provocações de grupos bolsonaristas;
♦ Estar sempre em grupos, sobretudo na chegada e na dispersão dos atos;
♦ Evitar o confronto direto e indireto, manter o foco no tema e lema do Grito;
♦ Pensar e organizar a segurança durante o processo de construção e realização das atividades (criar grupos de coletivos de advogados/as com o objetivo de garantir proteção jurídica para os/as militantes nas ruas);
♦ Em caso de abordagem policial, manter a passividade para evitar confronto direto, informando que o ato é pacífico e democrático;
♦ Em casos de violência, se possível, aproxime-se de pessoas que possam filmar ou fotografar o ocorrido, para servir de prova testemunhal.
Conheça mais em: gritodosexcluidos.com
Fonte: franciscanos.org.br